terça-feira, 10 de julho de 2012

A Porta somos nós!

Hoje, já instalada na minha nova sala, longe de exorcismos, energias, sapos e todo o mercado da ribeira dentro de quatro paredes! Já distante de tudo isso fui chamada a atenção para uma maneira de estar, que tantos de nós muitas vezes tem e vive.

Um senhor, simpático, educado e atencioso comenta comigo que fuma quatro maços por dia!
Os meus olhos e a minha cara não conseguiram disfarçar o espanto que senti quando ouvi tal coisa! Que perfeito disparate vindo deste senhor tão querido!

A primeira coisa que faço é dizer-lhe para ter cuidado, tem duas filhas ainda muito novas para criar !
Pra meu espanto, responde-me que as suas filhas têm a vida feita, o avô é milionário e pode cuidar delas! Engoli em seco e só lhe consegui dizer que pensava que o importante seria ele estar cá com elas!

Fiquei marcada e a pensar nisto durante algum tempo! Estas coisas mexem comigo! Esta facilidade, a maneira descarada e desavergonhada como as pessoas se anulam a si e ao que valem e projectam todo o seu valor no dinheiro, naquilo que têm choca-me!

Caramba! O dinheiro é óptimo, facilita-nos muito a vida! Alimenta-nos e sacia-nos não só as nossas necessidades básicas como nos permite ir mais longe, descobrir mais, desvendar novos caminhos, enriquecer e aprender! O dinheiro abre muitas portas, mas o dinheiro NÃO É A PORTA!

A PORTA somos nós! A porta é o nosso ser, a nossa presença, o nosso estar, o nosso acompanhar, o nosso amar! A porta é o que nos torna diferente de um objecto, é o que nos dá vida! A porta é que nos transporta para onde queremos e nos faz dar aquele passo que nos faz sentir seguros em casa!
O que seria de uma casa sem a porta? O que seria destas duas miúdas sem a sua porta?

Acho que estas miúdas mesmo sem terem direito de escolha, preferiam mil vezes ter a sua porta velha e a ranger mas alí, com elas e para elas! Elas são origem da vontade e liberdade desta porta as trazer a este mundo e lhes abrir a sua casa, o seu mundo. Esta porta decidiu não só ser porta como janelas, paredes, tecto, chão destas duas raparigas! Decidiu isso, desejou e alcançou a vontade! Agora que prefere fumar quatro maços por dia facilmente consegue passar a responsabilidade de dois projectos seus, para uma enorme e dourada porta que não é a delas!

O que me assusta já nem é o fumar, hoje em dia morre-se de tudo e de nada! Morre-se! O que me apavora é realizar que muitos de nós fazem de facto as suas vidas em volta do dinheiro! Muitas vezes nem é o deles, é o da porta mais velha que um dia lhes deixará e por isso, ainda viva e em bom estado, vê-se obrigada a poupar! Tem que poupar porque sim! Tem que poupar porque todas as outras portas semelhantes a ele querem contar com esse dinheiro para as suas vidas! E tudo gira em torno do dinheiro!

Muitos acabam a girar sozinhos já sem a ilusão que tiveram durante anos de que a porta de ouro em sua casa era aberta a muitos e tantos amigos! 
Muitos reparam que ao abrir a porta dourada e esplandecente estão sozinhos! Há uma imensidão de solidão, de silêncio e nem o eco dos monólogos lhes mata a solidão! Talvez nessa solidão se apercebam que há muita coisa que os cifrões não compram! Há muita coisa que apenas se sente e muitas vezes as portas douradas são como as dos museus, as pessoas passam, tocam com a mão algures para dar sorte, registam o momento com uma fotografia e seguem caminho!

É um erro enorme descarregar e aliviar os nossos erros com o dinheiro! É um suicidio acharmos que o dinheiro substitui um pai, uma mãe, uma família! É uma falta de amor próprio e destruição de qualquer ego e coração, deixarmos que o dinheiro nos ultrapasse e anule! É uma loucura permitir que o dinheiro seja mais importante que o nosso choro, o nosso sorriso, o nosso abraço, o nosso grito, o nosso estar, o nosso amar! 

 Somos uma porta! Valemos muito! Fazemos uma casa! Deixamos saudades!